sexta-feira, 1 de março de 2013

Ver-o-Peso é um retrato do abandono

Uma triste e suja realidade toma conta do Complexo do Ver-o-Peso, em Belém. O espaço sofre uma aparente situação de abandono diante de tanto lixo acumulado e da falta de manutenção do principal cartão postal da cidade. A cobertura de lona das barracas está rasgada em vários pontos e não é limpa há pelo menos dois anos, segundo os feirantes.
 
 
 
 
Por causa da sujeira, é comum se deparar com roedores que circulam livremente pela feira – inclusive entre as barracas de alimentação. Um risco para a saúde tanto de quem trabalha quanto para quem é visitante. Para piorar a situação, o piso já começou a ceder próximo a alguns bueiros. A prefeitura anunciou a reforma no local, onde funciona a maior feira da América Latina, porém até a execução do projeto muita coisa precisar ser reorganizada no Ver-o-Peso.
Não dá para distinguir em qual dos setores a situação é mais crítica. No da alimentação, por exemplo, observa-se a presença de ratos, em plena luz do dia, até no horário em que pessoas almoçam o típico açaí com peixe frito. Na parte de trás deste setor, o piso começou a ceder ao redor do esgoto. O buraco, além de servir de acumulo para a sujeira, serve de acesso para os roedores.
Vendedora de comidas típicas há mais de 10 anos no Ver-o-Peso, Vivian Macedo, diz que o local só é limpo quando os feirantes se mobilizam para lavar o setor de alimentação. “No tempo em que estou aqui nunca vi a ‘Lavagem’ que dizem que existe chegar até aqui. Somos nós mesmos quem lavamos”, destacou.
Ela ressalta a falta de coleta do óleo e da gordura que são tilizados para a fritura dos alimentos. “Algumas pessoas acabam jogando o óleo no ralo, lançando diretamente no rio”, atentou a vendedora. Sabe-se que um dos benefícios que a coleta dessa gordura poderia fazer é a fabricação de sabão, por exemplo.
Questionada sobre a situação da cobertura de lona, suja e rasgada em algumas partes, Vivian comentou que há cerca de três não passa por limpeza e nem por manutenção, pois a equipe que realizava este trabalho passou a temer o risco de acidentes. “Esta lona aí não suporta mais o peso de uma pessoa para lavar, então pode rasgar e a pessoa cair sobre as barracas”, disse.
“Há uma infestação de ratos e todos nós tememos quanto a nossa saúde. A gente procura manter as barracas limpas para evitar a presença de roedores e parasitas, mas tudo a nossa volta está sujo”, criticou Vivian. “Ninguém se nega a cumprir as recomendações da Vigilância Sanitária, mas a Prefeitura tem que garantir a sua parte e nos dar condições para trabalhar”, desfechou a vendedora.
No setor de artesanato não existe tanto lixo acumulado, mas a escadaria que dá acesso ao espaço está coberta de limo. Em dias de chuva, aumenta o risco de uma pessoa escorregar e cair na escada.
A sujeira predomina no setor de venda de frutas, verduras, legumes e temperos. Os restos de materiais orgânicos são despejados no chão onde se misturam a papelão e plástico – materiais que são facilmente recicláveis – mas poluem o local. Isto confirma a falta de conscientização ecológica, que traria benefícios tanto para os feirantes, quanto para os consumidores que se abastecem do mercado. Independente do setor, é quase unânime os trabalhadores do Ver-o-Peso apontarem a sujeira como o principal problema do espaço.
A Secretaria Municipal de Saneamento (Sesan) informou que o Ver-o-Peso é varrido duas vezes por dia e diariamente são recolhidas 32 toneladas de lixo. Mas no setor de ervas, são os próprios barraqueiros que improvisam a manutenção do espaço.
O vendedor Raimundo Gonçalves apontou que entre os problemas está a grade do esgoto quebrada, para onde a água da chuva escorre. “Isto é um risco, pois pessoas podem cair”, disse. Ele alega que não foi procurado por ninguém da prefeitura para informar quais as mudanças e readequações que serão feitas no Ver-o-Peso. A reportagem tentou contato com o Centro de Zoonoses para saber se há um cronograma para desratização do Ver-o-Peso, mas ninguém atendeu as ligações.
Prefeitura espera verbas do PAC para reformas
A Prefeitura de Belém prometeu reformar o Complexo do Ver-o-Peso com os recursos que irá receber do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) Cidades Históricas. Enquanto os recursos não chegam e as obras não iniciam, a Secretaria Municipal de Economia (Secon) começou a reorganizar o espaço. Algumas mudanças já começaram a valer, como a definição de horário para a venda de bebidas alcoólicas. De acordo com o titular da Secon, Marco Aurélio do Nascimento, o próximo passo será uma parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) para capacitar os trabalhadores do Ver-o-Peso. “O nosso objetivo é dar uma nova visão do espaço até o aniversário (dia 27 de março)”, frisou o secretário.
Mas alguns barraqueiros criticam a estrutura das barracas, por isso um novo modelo será pensado para a reforma e melhoria do espaço. Dos recursos que serão utilizados pelo PAC Cidades Históricas para a reforma e revitalização do Complexo do Ver-o-Peso, cerca de R$ 4,5 milhões serão para o Mercado, que engloba feiras e setor de alimento. O Solar da Beira, que está bastante deteriorado, vai receber um investimento de R$ 2 milhões para a reforma. A Praça do Relógio também será reformada, com orçamento previsto de R$ 249 mil.
(Diário do Pará)

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